Quase esquecida nos porões da memória, a vida
das jovens judias prostitutas do Leste Europeu, que imigraram no século XIX para
as Américas, boa parte aliciada pela rede Zwi Migdal, de tráfico de mulheres, entra
em primeiro plano no espetáculo As
Polacas – Flores do Lodo, que estreia em Porto Alegre nos dias 16 e 17 de agosto, no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (CCCEV), localizado na Rua dos Andradas,1223, às 20 horas.
Após as apresentações, serão realizados bate-papo dos atores e diretor com o
público.
Divulgação CCCEV |
A estreia em Porto Alegre é uma promoção do Centro
Cultural CEEE Erico Verissimo e Funarte.
Moacyr Scliar (1937- 2011) foi pioneiro em abordar na sua literatura este assunto. Com a obra de ficção O Ciclo das Águas (1975), o gaúcho se tornou o primeiro autor judeu brasileiro a ir contra o tabu que cercou essas mulheres por mais de cem anos.
O espetáculo, idealizado pela atriz Luciana
Mitkiewicz, com texto e direção do consagrado João das Neves, coloca no palco samba
e polca, dor e humor e uma narrativa original que alinha as prostitutas judias
e negras como protagonistas de uma surpreendente história, tendo como elo fatos
reais regados a doses de ficção. As
Polacas – Flores do Lodo circulou nas cidades do
Rio de Janeiro e de São Paulo em 2011 e 2012. Para 2013, recebeu o
Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz/ 2013 para circulação nas cidades de Belo
Horizonte, Curitiba, Campinas e Porto Alegre. Também
este ano, apresenta-se em cidades do interior de São Paulo, no Projeto Viagens
Teatrais do Sesi/SP.
ELENCO – Formado por 11
atores, o elenco une gerações do teatro brasileiro, com nomes como Beth Zalcman,
Iléa Ferraz, Wilson Rabelo, Eduardo Osorio (Boa Companhia, de Campinas), Carla
Soares, Lígia Tourinho, Felipe Habib, Guilherme Tomaselli, Rodrigo Cohen e
Luciana Mitkiewicz. As Polacas – Flores
do Lodo conta com o primeiro time do teatro nacional na criação: os cenários
são de Hélio Eichbauer, a direção musical é de Alexandre Elias e a preparação
corporal de Angel Vianna e Marito Olsson-Forsberg. A consultoria judaica é de Frida
Zalcman (assistente do rabino Nilton Bonder).
CENÁRIO – A trama se passa na Praça Onze, berço do samba
e da boemia carioca. A história vai e vem no tempo, sem obedecer a uma
cronologia precisa. Fato é que as polacas desembarcaram no Brasil fugindo da
fome e da perseguição religiosa. Pobres, longe da família, semi-analfabetas e
sem saber falar o idioma, foram discriminadas pela própria comunidade judaica
e, de início, também pelas prostitutas locais que temiam a nova concorrência. Da
rotina amarga sobrou coragem para mudarem o rumo da realidade: elas criam uma
associação de apoio mútuo e erguem o próprio cemitério, ajudando a promover a
cultura e religião judaica entre os brasileiros. João das Neves conta essa
história por um novo viés, misturando samba e música judaica, negros e brancos.
“Não é um musical, a palavra é o ponto alto do espetáculo. Mas tirei partido
sim do contexto, afinal a peça se situa entre duas culturas muito musicais”,
conta o diretor. Assim, surge no palco primeiro a rivalidade entre as prostitutas
estrangeiras e brasileiras. Em seguida, a transformação do estranhamento em
amizade e laços de solidariedade.
Do roteiro musical fazem parte canções originais,
especialmente compostas pelo diretor musical Alexandre Elias, além de samba,
polca, maxixe, milonga e músicas judaicas.
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